Para todas as fotos que não tiramos

Não temos muitas fotos juntos, eu e você. São quase 15 anos juntos, tantas histórias para contar. Mas poucas fotos para mostrar. Vira e mexe a gente fala sobre isso.

Promete que vai tirar mais fotos de nós dois, dos nossos momentos? Eu prometo. Você também. Passa o momento, cadê as fotos?

A gente finge que ficou triste, que não teremos uma recordação para guardar. Depois, esquece. Esquece que deveria ter ficado triste, esquece de lembrar de fotografar da próxima vez. Mas não esquece do momento vivido.

John Lennon, talvez antecipando que não teria muitas chances de aconselhar o filho Sean, cantou para ele que “vida é o que acontece a você enquanto você está ocupado fazendo outros planos”.

Eu mesma já repeti essa frase por aí, mudando até para “vida é o que acontece enquanto estamos ocupados compartilhando”, em uma crítica aos excessos nas redes sociais (e o que isso faz com a gente).

Mas a vida também acontece quando queremos congelar aquele momento em uma imagem. Quando a gente tem tanto medo de esquecer que decide “capturar” uma lembrança que, esperamos, sobreviva ao tempo e à nossa (falta de) memória.

Se toda vida acaba em uma caixa, fotos também estão destinadas a este fim.

Caixas de sapatos, caixas de madeira. Nuvens e HDs também são, afinal, caixas de fotos digitais. Molduras são caixas com boas intenções.

Eu não me importo com as fotos que não temos, não me importo com os momentos que não capturamos. Quando olho pra você, na minha mente as lembranças são mais nítidas do que qualquer fotografia poderia ser.

Porque eu estava lá.

Nós estávamos lá.

De verdade, juntos e presentes.

Pra mim, isso é mais do que suficiente.

**Foto: O começo de nós dois (Arquivo Pessoal/Amanda de Almeida)

 

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