É preciso saber viver

O mundo da música é um reino repleto de reis e rainhas. É incrível como temos os “Reis do Iê-Iê-Iê” – Beatles -, o “Rei do Soul” – James Brown -, o “Rei do Rock” – Elvis Presley -, a “Rainha do Soul” – Aretha Franklin. Isso só para citar alguns nomes. Mas, na semana que passou, foi o “Rei do Pop” – Michael Jackson – o monarca em destaque em todos os meios de comunicação possíveis e imagináveis.

Que a notícia é triste, certamente. Que existe uma certo exagero por parte dos meios de comunicação, é indiscutível. Nos últimos dias, todos os canais têm se repetido nas mesmas informações, nas mesmas histórias, nas mesmas músicas, nos mesmos personagens. Não há nada de novo. Nem morto, o cantor conseguirá descansar em paz.

De repente surgem especialistas em tudo. Especialistas em Michael Jackson, especialistas em celebridades – que o comparam ao “mito” Marilyn Monroe ou ao “Rei do Rock” Elvis Presley, mortos em decorrência do uso abusivo de medicamentos controlados-, especialistas em saúde. Criam-se teorias, esquecem-se os fatos.

O “Rei do Pop” morreu vítima de uma parada respiratória, ou um ataque cardíaco, depende da fonte. Muitos, entretanto, definiram o caso como uma “morte trágica”.

E, de repente, a palavra tragédia ganha um outro significado.

Talvez teria sido uma morte trágica se ele estivesse envolvido em um acidente de avião, como os Mamonas Assassinas, em 1996. Ou se ele, durante uma turnê, tivesse sido arremessado para fora de um ônibus que tombaria sobre seu corpo, como ocorreu com o baixista do Metallica, Cliff Burton, em 1986. Ou ainda se ele tivesse sido assassinado por um fã, como John Lennon, em 1980. Estas sim, talvez tenham sido mortes trágicas por conta da violência envolvida.

A verdadeira tragédia de Michael Jackson não foi na forma como ele morreu, mas na forma como ele viveu. Com uma família desestruturada, um pai abusivo e sanguessugas que agora estão ainda mais ávidos por seu espólio.

No sábado, a irmã do cantor, Janet Jackson, já estava na mansão onde ele vivia com uma equipe de mudanças. Quem ficará com seus filhos, quem ficará com o dinheiro? As dívidas eram de US$ 500 milhões, mas os direitos autorais sobre suas músicas e as dos Beatles, entre outros bens, giram em torno de US$ 1 bilhão. Dinheiro o suficiente para sustentar gerações.

E depois de tantas histórias sobre a morte de Michael Jackson, o Fantástico do último domingo abriu espaço para Roberto Carlos. Nada de “Rei do Pop”, “Rei do Rock”. O “Rei”, simplesmente. “Rei” que este ano comemora 50 anos de carreira. Os mesmos 50 anos que tinha Michael Jackson, só que de vida.

E, de repente, me ocorreu que em um mundo perfeito, Roberto Carlos poderia ter salvo a vida de Michael Jackson, se ambos tivessem se conhecido pessoalmente. Ou se, simplesmente, o “Rei do Pop” tivesse ouvido com atenção algumas músicas do nosso “Rei”.

Afinal, como explicar que Roberto Carlos já sabia que “Quem espera que a vida/Seja feita de ilusão/Pode até ficar maluco/Ou viver na solidão/É preciso ter cuidado/ Pra mais tarde não sofrer/ É preciso saber viver…/ Toda pedra no caminho/Você pode retirar/ Numa flor que tem espinhos/Você pode se arranhar/ Se o bem e o mal existem/ Você pode escolher/ É preciso saber viver…”

*Texto publicado originalmente em 30 de junho de 2009 em O Diário de Mogi

**Foto feita por mim em um show de Roberto Carlos em 2014 (Arquivo pessoal/Amanda de Almeida)

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