Dinheiro

Na década de 80, Dave Lee Roth era o vocalista de uma banda chamada Van Halen. Com fama internacional, ele cunhou uma frase célebre que dizia o seguinte: “Quem disse que o dinheiro não traz felicidade é porque não sabe onde fazer compras”. É um comentário engraçado, ainda mais se levarmos em conta o tipo de vida que o cantor levava naquela época – e que ainda se esforça para manter hoje em dia, apesar de pouca gente se lembrar de sua existência. Quer dizer, até que se lembram, porque depois de anos no ostracismo, ele voltou para o grupo, com quem está excursionando.

Outro músico, o brasileiro Frejat, compôs há alguns anos uma música chamadaAmor Pra Recomeçar, baseada em um poema do francês Victor Hugochamado Desejo. É um texto lindo, que em determinado momento diz: “Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,/ Porque é preciso ser prático,/ E que pelo menos uma vez por ano/ Coloque um pouco dele/ Na sua frente e diga ‘Isso é meu’,/ Só para que fique bem claro quem é dono de quem.”

Mas, por que falar em dinheiro? Porque, por incrível que pareça, até mesmo o dinheiro pode servir de ponto de partida para uma crônica. Tanto na ausência quanto na presença dele.

Pense bem. É comum dizer que, para se conquistar a independência plena – essa é uma lição comum que os pais dão aos filhos “aborrescentes” -, antes de mais nada é preciso que se conquiste a independência financeira. Mesmo que atualmente muita gente acredite que é muito mais fácil viver de mesada até os 40…

Mais importante do que a independência financeira, entretanto, é uma boa formação familiar. Afinal, há muitas coisas que o dinheiro não compra, apesar de Dave Lee Roth acreditar no contrário. Especialmente porque não estão à venda em loja alguma. Educação é uma delas. Independentemente do quanto custe a mensalidade de uma escola particular, a parte mais importante da formação de uma pessoa sempre caberá à família.

Isso porque dinheiro também não compra caráter. Ou a pessoa tem ou não tem. É o tipo da coisa que não tem meio termo. E caráter se forma com bons exemplos e pessoas aptas a ensinar a diferença entre o que é certo e o que é errado. Para isso é preciso ter consciência.

E daí que o dinheiro não compra a leveza da consciência, que nos permite ter uma boa noite de sono. É a tal da paz de espírito, que dinheiro algum é capaz de comprar.

Até onde as pessoas são capazes de ir por dinheiro? São capazes de roubar, matar, trair. São capazes de acreditarem que estão acima do bem e do mal, que as leis não se aplicam a eles, nem mesmo a Constituição. Ou, como disse na semana passada um certo senador-ex-presidente: “É uma vergonha o Brasil querer julgar um homem como eu”. Ah, é verdade: o dinheiro também não compra vergonha na cara.

Em uma era dominada pelo capitalismo, ter dinheiro é necessário, sim. Especialmente quando o acesso à saúde, educação e segurança se tornaram artigos de luxo, porque antes de mais nada é preciso pagar o salário de políticos que estão “se lixando” para o povo.

Só podemos lamentar por eles. Afinal, são pessoas incapazes de diferenciar quem é dono de quem, como observou Victor Hugo. E vamos encerrando por aqui porque, afinal de contas, tempo é dinheiro.

*Texto publicado originalmente em 23 de junho de 2009 em O Diário de Mogi

**Foto: Cartaz de uma artista de rua em Buenos Aires (Arquivo pessoal/Amanda de Almeida)

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