Em 2001, o diretor francês Jean-Pierre Jeunet apresentou ao público o que se tornou o filme favorito de muitas pessoas: O Fabuloso Destino de Amelie Poulain. A atriz que dá vida à personagem do título se tornou bastante conhecida mais recentemente, no papel da detetive Sophie Neveu, na versão cinematográfica de O Código Da Vinci. Me lembro que um jornalista, colega de trabalho, voltou ao cinema inúmeras vezes para ver e rever o filme, sempre em busca de um detalhe.
Já uma outra colega ficou inconformada com o que ela definia como “o filme das pedrinhas”. Tudo isso porque, um dos passatempos favoritos de Amelie Poulain, era jogar pedras na água para vê-las quicar.
O Fabuloso Destino de Amelie Poulain, entretanto, é muito mais do que isso. É uma história sobre como o cotidiano pode se tornar surpreendente se nos permitirmos sonhar, ou simplesmente nos arriscarmos diante do desconhecido, por mais improvável que ele possa parecer.
Em uma sequência bastante interessante deste filme, uma amiga de Amelie Poulain conversa com o rapaz em quem a protagonista está interessada e, de repente, do nada, começa a citar inúmeros provérbios, esperando que ele os complete. A tarefa é cumprida com sucesso, ao que a moça comenta: “Em minha família, acreditamos que pessoas que conhecem bem os provérbios não podem ser ruins”. Ou seja, se os provérbios são dizeres com algum fundo moral, quer dizer que quem os conhece sabe diferenciar o certo do errado.
Toda vez que eu leio um jornal, ou vejo as notícias na televisão ou na internet, os provérbios começam a brotar na minha mente, sempre acompanhados por uma dúvida: será que as pessoas não sabem mais diferenciar o certo do errado? Há um provérbio árabe, por exemplo, que diz “Pela repetição, até o asno aprende”. Ou ainda “Não dê trela ao desocupado: ele fará de ti a sua ocupação”. Ou ainda “Defeito que agrada o sultão, vira virtude”.
“Quem faz perguntas, não pode evitar as respostas” e “Um camelo não zomba da corcunda de outro camelo” estão entre os africanos, enquanto os gregos dizem que “É preferível ser dono de uma moeda do que escravo de duas”, ou ainda “Muitas opiniões também afundam um barco”. Entre os franceses, “A gentileza realiza mais que a violência” e “Os problemas de um fazem a alegria de outro”.
Melhor parar por aqui. Afinal, “Falar é prata, calar é ouro”. E “Em boca fechada, não entra mosquito”.
*Texto publicado originalmente em 29 de setembro de 2009 em O Diário de Mogi
**Foto: Cena de Amelie Poulain (Divulgação)