Mais uma dos contos de fadas

Nada nessa vida tem a obrigação de dar certo. Quantas vezes eu já devo ter repetido essa frase, seja aqui, seja para os meus amigos? Nem eu sei. Só sei que o nosso erro é insistir tanto para que as coisas funcionem, para que tudo dê certo, que a gente esquece de deixar as coisas simplesmente acontecerem.

E, quando elas acontecem, a gente acha que é o tal do final feliz que chegou.

Ledo engano. Não existem finais felizes. Na realidade, os contos de fadas sempre terminam em finais felizes, com o típico “e viveram felizes para sempre”, porque seus autores têm preguiça de contar o tremendo trabalho e tempo que uma relação exige.

Ou você acha que vai ser simples para uma mulher que passou 100 anos dormindo, foi criada por três fadas madrinhas, acabou de conhecer seus pais que praticamente a rejeitaram, e ainda foi perseguida por uma bruxa que queria eliminá-la da face da Terra, começar um relacionamento com um príncipe valente?

Aha. Tá bom. E viveram felizes para sempre? Que nada… Essa mulher vai ter muita coisa para resolver no consultório da terapeuta. Isso falando da Bela Adormecida, que provavelmente vai querer dormir toda vez que aparecer um problema, sintoma típico da depressão.

Ou a Branca de Neve, que foi ignorada pelo pai, perdeu a mãe, teve uma bruxa como madrasta, foi levada para a floresta por um caçador, que tentou assasiná-la. Aí ela fugiu e foi morar com sete anões. Meu Deus, sete homens. Cada um com uma personalidade mais bizarra que a outra.

Daí a bruxa vem, oferece uma maçã, que dieta que nada. Então ela vai e morre. Até que o príncipe aparece, dá um beijinho, e você quer acreditar que está tudo bem? A fila no consultório psiquiátrico dos contos de fadas deve ser enorme.

O meu ponto de vista é o seguinte: nós fomos condicionados a acreditar que conquistar alguém, de conseguir estar com quem se gosta, é a finalidade. Não é. É o início de tudo. E aí voltamos a tal da história dos três porquinhos, de que é preciso investir tempo, paciência, dedicação… e sempre manter em mente que não há obrigação de dar certo. Você sabe que está dando certo no dia-a-dia, não em momentos isolados de “e viveram felizes para sempre”.

Mas, sob um ponto de vista do mundo real, gosto da frase de um amigo meu: “e sobreviveram felizes quando não brigavam”.

*Texto escrito e publicado originalmente em 01 de março de 2007 em A Complexa Arte de Ser Mulher

**Foto: Cena de A Bela Adormecida (Divulgação)

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