É curioso como, nessa vida, tudo é uma questão de tempo. Tudo está relacionado a ele, o tempo. O tempo de uma gestação, para podermos nascer. O tempo de vida, contado em segundos, minutos, dias, semanas, meses e anos. Os aniversários. Tempo que segue em frente, nunca volta atrás. Ainda que a máquina do tempo seja um sonho de ficção científica que já resultou em muitas histórias.
Quando eu era criança e me machucava, a minha avó dizia: “Quando casar, sara”. Se eu tivesse acreditado nisso, provavelmente guardaria meus machucados até hoje, na minha solteirice. Já pensou? Mas eram outros tempos. Tempo de criança em que tudo o que a minha avó queria dizer era para eu não chorar, não ligar para aquele machucado porque, antes que eu me desse conta, ele já haveria desaparecido e eu não me lembraria mais dele.
E o tempo continuaria correndo.
E a vida continuaria passando.
John Lennon escreveu uma música muito bonita para seu filho, Sean, chamada “Beautiful Boy (Darling Boy)” (“Menino Lindo [Querido Menino]”). Em determinado trecho, ele diz: “No oceano que veleja afora/ Eu quase não posso esperar/ Para te ver mais velho/ Mas eu acho que vamos ter de ser pacientes/ Porque o caminho é longo/ Uma vida dura para vencer/ Sim é um caminho longo/ Mas enquanto isso/ Antes de atravessar a rua/ Segure minha mão”. E então, a minha parte favorita: “Vida é o que acontece a você/ Enquanto você está ocupado fazendo outros planos”.
Quer melhor definição de tempo do que essa?
O que eu quero dizer é que a gente se preocupa tanto com o tempo que nem percebe como ele está cada vez mais veloz. E, de repente, passamos tanto tempo planejando algo que não sobra tempo para concretizar o que gostaríamos.
Há coisas que precisam, sim, ser planejadas. Mas é preciso viver, também.
Dizem que o ser humano tem três fases na vida: juventude, idade adulta e velhice. Na juventude, o ser humano tem vontade e tempo, mas não tem dinheiro para fazer o que quer. Na idade adulta, existe vontade e até um pouco de dinheiro, mas não se tem tempo. E na velhice, há tempo e algum dinheiro, mas não há mais vontade. Tudo bem, isso é uma piada que eu ouvi há alguns anos, mas faz todo o sentido.
Tudo isso para perguntar: o que estamos fazendo com o nosso tempo?
Toda essa tecnologia que era para nos ajudar a ter mais tempo para nós mesmos nos tornou escravos. Celular, internet, computadores… Outro dia vi um anúncio que dizia que uma dona de casa gasta, em média, algumas centenas de horas lavando louças. E que com aquele tempo, se ela tivesse uma máquina para executar o serviço, ela poderia utilizar com ela mesma, fazendo exercícios ou vendo filmes. A ideia é bárbara, mas, vem cá: desde quando mesmo a gente usa o tempo que sobra com a gente mesmo?
Sempre tem alguma coisa que precisa da nossa atenção. Algo inesperado. Mas para entender isso, só com o tempo.
*Texto publicado originalmente em 08 de junho de 2010 em O Diário de Mogi
**Foto: Vista interna do relógio no Museu d’Orsay em Paris (Arquivo pessoal/Amanda de Almeida)