Dia desses, navegando pela internet, me deparei com uma matéria muito interessante no jornal norte-americano “The New York Times”: as pessoas estão redescobrindo as máquinas de escrever. Obviamente que eles estavam se referindo aos cidadãos norte-americanos. É impossível negar, entretanto, que as teclas, tão comuns em nossas vidas, estão cada vez mais próximas do fim. Mas, vamos por partes.
Quando eu fiz 14 anos, estava louca para começar a trabalhar e a ganhar meu próprio dinheiro. Meu avô, então, fez a oferta: vá estudar datilografia que você poderá trabalhar comigo. Era 1993 e eu fui.
Na época, estudei no Guarani, que ficava em uma casa antiga – que hoje não existe mais – em frente à Telefonica, no Centro de Mogi. Nós começavamos com uma máquina de escrever antiga, daquelas pretas, de “mil novecentos e bolinha”. Conforme nossa técnica ia evoluindo, as máquinas que usávamos também melhoravam.
Nunca explicaram porque usávamos as máquinas mais antigas antes. Aos 14 anos, eu também não me preocupei em perguntar. Hoje, acredito que seja porque as máquinas mais antigas eram mais duras e pesadas, enquanto as mais novas eram mais sensíveis e leves. A evolução técnica não incluia somente o conhecimento do teclado e a rapidez, mas também a força com a qual batiamos no teclado.
Eu ficava tão entediada que, depois de um tempo, comecei a levar música escondido. Colocava o fone de ouvido escondido embaixo da roupa, cobria as orelhas com o cabelo e pronto, botava Ramones para tocar. Acredite ou não, eu datilografava de maneira muito mais rápida e cadenciada com a música.
Hoje em dia, entretanto, é difícil encontrar quem ainda aprende datilografia em máquinas de escrever. No século 21, as pessoas aprendem digitação em teclados de computadores. Quando aprendem de maneira tradicional, pois os computadores são cada vez mais comuns nas vidas das pessoas e o tec-tec no teclado passa a ser intuitivo. Ou, como muita gente gosta de definir sua habilidade, coisa de quem está “catando milho”.
Ter estudado datilografia foi uma das melhores coisas que fiz na vida. É um aprendizado que uso diariamente, na minha vida e no meu trabalho. Ganho muito tempo quando meus dedos no teclado conseguem acompanhar o meu pensamento.
E ainda há o teclado. Em breve, entretanto, não haverá mais teclado da maneira como conhecemos. O teclado caminha a passos largos em direção ao mundo virtual. Isso já acontece em telefones celulares, com touch screen. Você toca na tela para escolher o que quer fazer, para discar números… O que dizer, então, dos tablets como o iPad, que está a caminho de substituir até mesmo os computadores. Não agora, mas em breve.
Tudo tão distante daquele charmoso telefone instalado na sorveteria e doceria Santa Helena. Aquele, antigo, que parece uma carinha feliz. E o telefone de disco? Ninguém mais disca os números, todo mundo digita.
É assim que o mundo evolui. Quem acompanha esta evolução, fica maravilhado com este “admirável mundo novo”, ao mesmo tempo em que não consegue evitar as saudades do que já foi um dia.
A tecnologia é sensacional, especialmente quando conseguimos explorar todas as suas possibilidades. Ou pelo menos tentar. O tec tec tec do teclado, entretanto, sempre terá o seu charme.
*Texto publicado originalmente em 05 de abril de 2011 em O Diário de Mogi
**Foto: Máquina de escrever antiga em um café em Cunha (Arquivo pessoal/Amanda de Almeida)