Quando eu era criança, vez ou outra meu pai nos levava para São Paulo: minha mãe, meu irmão e eu. O itinerário geralmente incluía uma ida ao shopping, onde almoçávamos e, se estivesse perto de alguma data especial (aniversário, Natal ou Dia da Criança), também íamos na Ciamar.
Mas, destas idas a São Paulo, as melhores eram aquelas que terminavam na casa da tia L.
Tia L., na verdade, era minha bisavó. Explico: minha bisavó, mãe do meu avô paterno, morreu muito cedo, deixando meu bisavô sozinho com as crianças. Para ajudá-lo, entrou em cena tia L., que era irmã da bisa original. Como naquela época não ficava bem uma mulher (detalhe: a mulher tinha 14 anos) morar com um homem sem estarem casados, eles acabaram se casando e até tiveram mais duas filhas. Pelo menos é assim que me lembro da história que me contaram.
Mas se tia L. foi a única bisa que eu conheci, então por que chama-la de tia e não de bisa? Pelo que entendi isso foi coisa da minha avó paterna, que obrigou meu pai a chamá-la de tia e não de vó, apesar de ela ser aquela avó adorável. Daí a gente acabou aprendendo por repetição.
Tia L. foi a bisa mais deliciosa que a gente poderia ter. Pequenina em estatura, com um baita quadril largo e brava feito ela só – o que sempre atribuí ao sangue quente espanhol. Mas era de um amor, de um carinho… Tudo devidamente expresso com as delícias que cozinhava como ninguém. Seu bolo de nozes é o tipo da coisa inesquecível para quem teve a chance de experimentar.
Tenho tantas lembranças boas das idas à sua casa… De pegar limão da árvore do vizinho (que acabava entrando no quintal da tia L.) com o nosso primo R., que misturava com água e açúcar, mas chamava de caipirinha. De passar horas no quartinho com nossa prima M., que era professora e sempre tinha montes de desenhos mimiografados, giz de cera e lápis de cor que ela dava para gente ficar colorindo…
Sempre penso na minha prima com saudades quando filhos de amigos vêm à minha casa e eu tenho papéis, giz de cera, canetinhas, lápis de cor e afins para a criançada brincar. É provável que ela nem imagine o quanto isso me marcou.
Conforme a gente cresceu, cresceu também a distância do meu pai e, consequentemente, de sua família. Ainda assim, guardo com carinho na memória as tardes de sábado passadas lá na “Casa Verde”, os cheiros, os sabores e todo o amor que a gente sentia por lá.
**Foto: Lá na “Casa Verde” (Arquivo Pessoal/Amanda de Almeida)