Passado o feriado, na última semana, abro o jornal. Timidamente, no canto esquerdo da página, o comunicado do falecimento de Oscarlino Pinto. Seu Oscar, como nós o chamávamos, nunca teve o seu nome assinando textos e fotos em O Diário de Mogi. Mas, ao longo de décadas, teve participação fundamental na produção de nossas matérias, atuando nos bastidores.
Seu Oscar foi motorista da Rádio Diário e do jornal. À primeira vista, era um tipo sério e ranzinza. Não dava confiança para qualquer um. Observava mais do que falava. Usava sempre calça social e camisa. Acho que nunca vi seu Oscar de camiseta ou calça jeans. Mas usava, também, um boné branco, que com o tempo já ia amarelando.
Com os repórteres com quem tinha mais intimidade, usava apelidos. Seu Oscar nunca me chamou de Amanda. Era sempre Manda. Também não tinha papas na língua. Falava tudo o que desse na telha. E testava a nossa paciência dirigindo, por diversas vezes, tão devagar que nossa vontade era descer do carro e seguir a pé. Assim, pelo menos, a gente chegava mais rápido.
Mas como conhecia essa Cidade e Região. Sabia chegar em todas as quebradas. Quando não sabia, abria o porta-luvas calmamente, pegava o guia e procurava. E, como se tivesse todo o tempo do mundo – mesmo com repórter e fotógrafo se esgoelando no banco do carona -, ele não ligava o carro antes de preencher a folha de controle. Informava aonde iria, com quem, hora da saída e quilometragem do carro. Era corretíssimo.
Tinha, também, suas manias. Vez ou outra, cuspia nas mãos e as esfregava. Sua justificativa era “para dar melhor aderência ao volante”. Seu horário de almoço era sagrado. Também odiava o celular que era obrigado a carregar diariamente.
Não era de se meter no trabalho dos colegas, mas sempre trazia sugestões de pautas. Coisas que ele observava por trás do volante, dirigindo por toda Cidade. Perdi as contas de quantas vezes trouxe anotado pra mim um endereço, dizendo que lá tinha alguma coisa que me interessava.
E tinha histórias.
Muitas das histórias vividas ao lado do Edson Martins, o Edinho. Quem não conhecia o amor e a amizade que os unia, ficava assustado com o jeito que eles se tratavam, sempre aos berros. Mas era engraçado. Quando saíamos para uma pauta, se você não estivesse acostumado, não conseguia entender nada da conversa dos dois. Tinham sua própria forma de se comunicar, às vezes por um olhar.
Seu Oscar nos deixou histórias. Tantas que não caberiam aqui. Acho triste que as futuras gerações de repórteres de O Diário de Mogi não terão a chance de conhecer essa figura.
Ao escrever este texto, me lembrei do seu Roberto Monteiro. Em seus últimos anos, ele mandava seus textos de casa, em disquetes que nem existem mais.
Seu Roberto não confiava em e-mails. Então, todo dia seu Oscar ia buscar o disquete na casa do seu Roberto. Davam um dedo de prosa no portão, se despediam e cada um seguia pro seu lado. Fico imaginando estes dois amigos reunidos novamente, com suas velhas histórias. Nosso consolo é que estão em ótima companhia…
*Texto publicado originalmente em 22 de novembro de 2011 em O Diário de Mogi
**Foto: Mogi (Arquivo pessoal/Amanda de Almeida)