Quando eu era criança, na casa da minha avó havia duas salas. A que a gente chamava de Sala Verde era aquela em que éramos praticamente proibidos de entrar – a não ser em ocasiões muito especiais. Era a sala de receber visitas, dos móveis chiques, da mesinha de centro feita de vidro e que, obviamente, não era à prova de crianças.
Mas tinha também a outra sala, a de tevê.
Aquela, sim, parecia ter sido pensada para nós. Tinha tapete e vários almofadões no chão. Um sofá que parecia gigante o suficiente para juntar toda a família, mais duas poltronas. A da direita era a dela.
A poltrona da vó sempre foi o lugar mais disputado da casa. Não porque tinha o melhor ângulo, fosse o mais confortável ou qualquer outra coisa porque, sim, também tinha isso tudo.
O que realmente tornava aquela poltrona o melhor lugar era justamente a presença dela. Era um cantinho estreito que sobrava, mas a gente disputava para ver quem iria sentar ali com ela.
Pensei nesse lugar hoje, enquanto meditava.
A ideia era pensar em um “lugar seguro” e, de repente, minha mente voltou no tempo em que eu cabia ali, naquele cantinho, envolvida pelo abraço dela.
Engraçado que hoje, adulta, eu ainda me sinto segura só de lembrar da minha vó. Sei que onde eu estiver, onde ela estiver, ela sempre estará em mim.
**Foto (Arquivo pessoal/Amanda de Almeida)