Dia desses, encontrei uma conhecida na farmácia. Papo vai, papo vem, me lembro de todos os detalhes que nos ligam uma a outra. Exceto um: não consigo me lembrar, de maneira alguma, do seu nome. De repente, tenho um lampejo e… nada. Alarme falso. Me despeço com o seu nome na ponta da língua e sigo o meu caminho, indignada comigo mesma, com a minha memória… ou a falta dela.
Não foi a primeira vez, e certamente não será a última, que isso me acontece. Também sei que isso acontece com todo mundo, a todo momento. E mesmo com a dor de cabeça e a vergonha causadas pelo branco, ainda prefiro isso a trocar nomes. Confesso, aliás, que nos últimos tempos tenho me especializado na arte de trocar alhos por bugalhos.
Trocar nomes é tão comum quanto esquecer um nome. Às vezes você faz isso de maneira inconsciente. Ou de sacanagem, como eu costumava fazer quando era adolescente. Conheci uma menina chamada Keila. Eu a chamava de Sheila, porque sabia que isso a irritava profundamente. Aos 15, dificilmente nos preocupamos com sentimentos que não sejam os nossos próprios.
Há, ainda, aqueles momentos em que você, sem querer, troca os nomes das pessoas porque, de alguma forma, o nome que você se lembra parece fazer mais sentido. Joaquim vira Manuel. Carioca vira Bigode. Bernadete vira Margarete. E por aí vai.
Não vamos nos esquecer, também, daquelas ocasiões em que nem sonhamos em trocar um nome, até que alguém chega para dar o alerta: “Olha, o nome da minha namorada é Fulana. Beltrana era o nome da ex. Não vá confundir, hein!”Daí, você fica com aquilo na cabeça. Começa a ficar nervosa com a possibilidade até então inimaginável de fazer uma confusão e trocar os nomes que… óbvio, o pior acontece e você chama Fulana de Beltrana.
Fazer o que nessa situação? Pedir desculpas? Fingir que não percebeu?
Em alguns casos pode até funcionar, mas e a vergonha que você carrega na lembrança? Aquela mesma, que faz o seu rosto corar de tanto que queima toda vez que você se recorda do que fez?
Não tenho nenhuma receita mágica para consertar uma troca de nomes. O que não quer dizer que eu não tenha uma tática para disfarçar quando me dá um branco em relação ao nome de alguém com quem estou conversando. Tenho ganhar tempo, faço perguntas, principalmente se o branco é tão extensivo que eu não faço ideia de quem seja o meu interlocutor.
Quando se é jornalista, isso acontece frequentemente. Nós entrevistamos tantas pessoas – às vezes chegamos a vê-las apenas uma vez na vida – que quando estamos em outro lugar, uma outra situação, e alguém te cumprimenta, conversa com você e, ao perceber seu desconforto expresso em um indisfarçável ponto de interrogação facial, faz questão de perguntar: “Você se lembra de mim?”
Às vezes lembramos. Outras, vagamente. Há, ainda, aquelas ocasiões em que não fazemos ideia de quem seja o outro. Você pode até ser quase sincera e dizer: “Olha, você me desculpe, mas eu sofri um pequeno acidente doméstico e os remédios que eu tomo me causam um lapso de memória. Então, por favor, me ajude a preencher este branco e diga quem é você? De onde nos conhecemos, mesmo?”
Esteja preparada(o) para a resposta. Se for sua ex-sogra, certamente você concluirá que poderia ter sido melhor trocar os nomes. Ou que seus lapsos de memória fossem mesmo reais.
*Texto publicado originalmente em 29 de março de 2011 em O Diário de Mogi
**Foto: Jogo Palavras-Cruzadas (Arquivo pessoal/Amanda de Almeida)