Para ler, refletir e guardar, duas belas histórias do livro “Zen Shorts”, de Jon J. Muth.
“A Sorte do Fazendeiro”.
Era uma vez um velho fazendeiro que já trabalhava arduamente havia muitos anos. Um dia, seu cavalo fugiu. Ao ouvir a notícia, seus vizinhos foram visitá-lo. “Quanta má sorte”, eles disseram. “Talvez”, respondeu o fazendeiro.
Na manhã seguinte, o cavalo retornou, trazendo com ele outros dois cavalos selvagens. “Quanta boa sorte!”, exclamaram os vizinhos. “Talvez”, respondeu o fazendeiro.
No dia que se seguiu, o filho do fazendeiro tentou montar um dos cavalos indomados, foi jogado e quebrou a perna. “Quanta má sorte”, eles disseram. “Talvez”, respondeu o fazendeiro.
No outro dia, oficiais militares chegaram à vila para levar os jovens para o exército, para lutarem em uma guerra. Ao ver a perna quebrada do filho do fazendeiro, eles passaram reto. “Quanta boa sorte”, gritaram os vizinhos. “Talvez”, disse o fazendeiro.
“Um grande peso”.
Dois monges andarilhos chegaram a uma cidade onde uma jovem mulher estava esperando para descer de sua liteira. As chuvas causaram poças profundas e ela não podia passar por elas sem estragar seu robe de seda. Ela ficou ali, olhando para o outro lado, de maneira muito impaciente. Ela reclamava para seus servos, mas eles não tinham onde deixar os pacotes da patroa, então eles não tinham como ajudá-la a passar pelas poças.
O monge mais jovem percebeu a mulher, mas não disse nada e seguiu adiante. O monge mais velho a pegou rapidamente, colocou-a em suas costas e a transportou para o outro lado, onde a deixou. Ela não agradeceu o monge mais velho, apenas o tirou de seu caminho e seguiu em frente.
Enquanto eles seguiam seu caminho, o monge mais novo meditava, preocupado. Depois de várias horas de silêncio, ele finalmente falou. “Aquela mulher lá atrás foi muito egoísta e rude, mas ainda assim você a carregou em suas costas! Depois, ela nem agradeceu você”. “Eu deixei aquela mulher lá atrás há várias horas”, o monge mais velho respondeu. E continuou: “Por que você ainda a está carregando?”
*Texto publicado originalmente em 13 de setembro de 2011 em O Diário de Mogi
**Foto: Autorretrato com Zen Shorts (Arquivo pessoal/Amanda de Almeida)