Da Barsa ao Google

Você já teve aquela sensação de que ficou sem assunto? Já há algumas semanas eu tenho vivenciado essa sensação, que geralmente vem acompanhada de medo de me tornar cada vez mais chata e repetitiva. E, como sempre me dizia o professor José Sebastião Witter, todos nós corremos o risco disso acontecer algum dia.

O mais curioso é que isso aconteça em plena era da informação.

No ano passado, participei de um grupo de discussões formado por comunicadores que tentavam entender como o excesso de informação se refletia na absorção do conteúdo. É a velha história da quantidade x qualidade. E a conclusão a que cheguei foi que a quantidade de informação que recebemos hoje em dia é inversamente proporcional à sua qualidade.

As razões disso acontecer vão desde a pressa (sempre ela, a inimiga da perfeição), que obriga as pessoas que produzem o conteúdo a não ter tempo (ou se dar ao trabalho) de checar os fatos, às facilidades que os meios oferecem (hoje com um celular você consegue acessar a internet e consumir informação de sites e redes sociais) e até mesmo uma espécie de conformismo.

Algo como como: para que eu preciso aprender algo se o deus Google está aí para atender minhas preces (buscas) e me dar as respostas em questão de segundos?!

Posso parecer meio saudosista, mas… eu sou da época em que os trabalhos escolares eram resultados de pesquisa feitos na boa e velha Barsa. A coleção ficava lá na casa da minha avó, em uma estante do lado de fora do escritório do meu avô. As primeiras vezes que precisei da coleção, tive que subir em um banquinho, pois não tinha altura para pegar os livros. Devia estar na segunda série e o trabalho era sobre José de Anchieta.

Sem um Ctrl+C, Ctrl+V à disposição, era obrigada a ler, interpretar e depois escrever com minhas próprias palavras o que havia entendido. Ah, e para quem não está acostumado com a linguagem dos computadores, Ctrl+C e Ctrl+V são dois comandos, um para cópia e outro para “colar” o trecho copiado.

Eu não sou contra as evoluções tecnológicas e o fácil acesso à informação. Muito pelo contrário. A única coisa que me incomoda, na verdade, é como as facilidades nos tornam mais preguiçosos, menos exigentes e até mesmo mais ignorantes. Ao ponto de ficarmos não só sem assunto, mas também sem conhecimento.

O que eu tenho percebido – e isso é uma opinião bastante pessoal – é que não sobra mais espaço para a curiosidade. Saber o que é, como funciona, de onde veio, para onde vai, para que serve… Muito mais do que um resuminho na Wikipedia que muita gente copia, cola e toma posse, como se fosse sua própria ideia.

O ser humano é movido à curiosidade. Foi a curiosidade que permitiu os avanços científicos, tecnológicos e criativos. E é a curiosidade que nos incentiva a buscar um maior aprofundamento sobre determinados temas, do que simplesmente aceitar o superficialismo imposto pela era da informação.

Se eu tenho alguma proposta que permita um ponto de equilíbrio entre o conhecimento e o excesso de conteúdo? Não. Mas vou continuar procurando. Estou curiosa para saber o que posso encontrar por aí. E, quem sabe, não fico mais sem assunto.

*Texto publicado originalmente em 14 de fevereiro de 2012 em O Diário de Mogi

**Foto: Livraria Shakespeare and Company em Paris (Arquivo pessoal/Amanda de Almeida)

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