O que têm em comum as bandas The Beatles e The Ramones com Mogi das Cruzes? À primeira vista, nada. Os fãs de rock, especialmente destes grupos, e que tiverem boa memória talvez saibam a resposta.
Considerada a maior banda de todos os tempos, os Beatles também são músicos favoritos de muita gente. Em determinado momento da beatlemania, quando a influência de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr no mundo da música – e também na moda, cultura e até mesmo política – era inquestionável, Lennon chegou a declarar que os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo.
Para muitos ele exagerou. Mas, levando em conta que apenas uma fração da população mundial é cristã, talvez ele tivesse uma certa razão no que estava dizendo. Afinal, a música não reconhece barreiras políticas e religiosas. Cristãos, judeus, muçulmanos, budistas e ateus, socialistas, capitalistas, comunistas, anarquistas e libertários podem ter suas próprias crenças e gostarem do mesmo tipo de música.
Mas estou me desviando do assunto. Cada fã tem seu beatle favorito, geralmente optando por alguém da dupla Lennon-McCartney. Nunca perguntei, mas desconfio que o favorito de meu irmão seja Ringo Starr, o baterista com cara de bobo, que sempre se dava mal nos filmes do quarteto. Melhor que Os Trapalhões. Era praticamente o Zacarias, com aquele jeitão inocente e atrapalhado.
Eu sempre curti George Harrison. Suas composições são tão boas quanto as de Lennon e McCartney, assim como seu talento para tocar guitarra. Ele também sempre me pareceu mais sério e compenetrado, sem disposição para os ataques de estrelismo dos colegas, apesar de ser tão genial quanto os outros.
Lennon era Lennon. Daí chegamos a Paul McCartney. Das muitas histórias em torno deste artista, existe uma que serve de justificativa para o nome da banda Ramones. Dizem que, quando viajava e não queria ser reconhecido ou incomodado, McCartney costuma se registrar em hotéis com o nome de Paul Ramon(e). Fãs incondicionais dos Beatles (e quem não era naquela época), os músicos dos Ramones adotaram o nome para a banda e, consequentemente, o sobrenome para cada integrante.
Foi desta forma que surgiram Joey Ramone, Johnny Ramone, Dee Dee Ramone e Tommy Ramone. Da mesma forma que os Beatles utilizavam apenas três acordes em muitas de suas composições, os Ramones faziam o mesmo, mas com uma pegada um pouco mais rápida, o punk rock. E, apesar do som um pouco mais pesado, as letras tinham a mesma inocência, ao meu ver, do que era feito pelos Quatro Rapazes de Liverpool.
Beatles e Ramones são, sem sombra de dúvidas, minhas bandas favoritas. A primeira, eu nunca tive a chance de assistir ao vivo, pois eles se separaram quando eu nem era nascida e John Lennon foi assassinado quando eu tinha dois anos. Já a segunda… Os Ramones vieram muito ao Brasil, mas foi somente em sua última turnê, “Ádios, Amigos”, em 1996, que eu tive chance de vê-los.
Por incrível que pareça, foi aqui mesmo, em Mogi das Cruzes, quando eles se apresentaram na La Boom, uma casa noturna que ficava onde hoje é o estacionamento dos fundos do Mogi Shopping. Joey, Johnny e Dee Dee já morreram. Aqui na Cidade, a formação era diferente, com Joey, Johnny, Marky e CJ.
Ainda assim, que esteve lá naquele dia guarda com carinho o surpreendente show que os Ramones fizeram em Mogi.
*Texto publicado originalmente em 01 de dezembro de 2009 em O Diário de Mogi
**Foto: Ramones (Divulgação)