A minha história é minha e eu conto do jeito que eu quiser. Em prosa ou verso, com mistério ou romance, sem fatos, apenas imaginação. A vida é minha, assim como as lembranças do que foi, do que passou.
Ninguém estava na minha pele, dividindo comigo os sentidos, sentimentos e sensações. Quem conhece melhor minhas dores do que eu mesma? Meus afetos, laços e canções?
Quem pode afirmar com toda certeza o que se passava em minha mente ou coração? Ninguém. Nem mesmo eu.
Porque hoje, o que eu escrevo, é apenas uma versão do que foi, do que passou. Não há nada capaz de fazer o tempo voltar, para que eu note o meu pensar.
Toda escrita é apenas uma versão de uma história, limitada por quem somos, nossas lembranças, nossos sentires. Não há como voltar.
A cada palavra escrita, reescrita, há um editar. Mas o editar vem antes, na mente e na memória. Já vem no momento em que vivemos e interpretamos o que lá está. E tudo bem.
Escrever é aceitar que não temos controle algum sobre o que virá. É todos os dias abrir mão, ceder para que, em troca, as palavras venham nos habitar.
Se eu não baixar a guarda, como elas poderão se aproximar?
Porque escrever é proximidade. Viver é proximidade. É estar ali, na linha de frente. É não se distanciar quando tudo dá errado. Me poupar de sentir? Pra quê?
Como escrever sem antes viver?
Escreva sobre o que você sabe, eles dizem. Do que eu poderia saber melhor do que minha própria história? Histórias que vivi, que me lembro. Sobre o que são essas histórias?
Hoje, é sobre saudade. Saudade com nome e sobrenome. Com data de nascimento e uma vida inteira antes mesmo de mim.
Tem risos e lágrimas. Tem abraços e lembranças. Tem de tudo um pouco, mais dois dedos de prosa.
Tem canções de ninar, afagos e balanços. O pé na máquina de costurar vai e vem, como naquela cadeira que ela gostava de sentar.
**Foto: Do livro Páginas Ampliadas, de Edvaldo Pereira Lima (Arquivo pessoal/Amanda de Almeida)