Eu não faço ideia de quem disse que a nossa vida só é completa quando plantamos uma árvore, temos um filho e escrevemos um livro. Só sei que ela já se tornou um lugar-comum, citada constantemente em qualquer hora, qualquer lugar. Para alguns, talvez ela até possa até fazer algum sentido, mas não é o meu caso.
Não existe uma fórmula que defina o que é uma vida completa. A+B=C. Ou uma receita: 1 xícara de açúcar, ½ colher de chá de sal, 2 colheres de sopa de fermento e baunilha a gosto.
Para cada pessoa, a vida é formada por ingredientes, elementos que a tornam completa. Ou pelo menos que fazem com que ela seja mais fácil de se levar. Em alguns casos, um bom ingrediente é a amizade. Mas, como em qualquer receita que se preze, qualquer ingrediente deve ter sua medida certa, nem um pouco a mais, nem um pouco a menos.
E, se pararmos para pensar, os amigos podem até ser como as árvores daquela frase lá do começo deste texto. Se é importante plantar árvores, semear amigos também é. E assim como as árvores, também há diversos tipos de amigos. Saber respeitá-los do jeito que eles são é o primeiro passo para que o relacionamento funcione.
E como qualquer árvore que se preze, a amizade é um tipo que deve ser regada, mas também precisa de uma poda vez ou outra, para que continue a florescer. O processo de poda às vezes é muito doloroso, mas quando superado, os galhos crescem ainda mais fortes. Se não voltam a crescer, é porque não eram fortes o suficiente.
Uma boa amizade, assim como uma boa árvore, é aquela que tem raízes profundas, capazes de, independentemente do quanto o tronco cresça e fique longe da terra, está presa o suficiente para aguentar tempestades e vendavais. Mais do que forte, o tronco deve ser um pouco flexível, para não se quebrar diante das rajadas de vento.
Nossos familiares são os primeiros amigos que conhecemos. São aqueles que estão unidos a nós por laços de sangue, de convivência e, muitas vezes, porque não têm opção alguma além de nos aturar.
Já os amigos que a vida nos traz, estes sim, nos permitem escolher. E escolhemos o tempo todo. Ficar ao seu lado ou simplesmente esquecê-los e seguir em frente. Perdoar ou não suas falhas. Aceitar ou não seus defeitos, da mesma forma com que respeitamos e admiramos suas qualidades.
Ao longo de minha vida, fiz grandes amigos. Alguns eu perdi, outros me perderam. Talvez nós não fossemos dignos da amizade uns dos outros, ou simplesmente as raízes de nossas árvores não eram profundas o suficiente para aguentar as tempestades, ou quem sabe nossos troncos não foram flexíveis o bastante para resistir às rajadas de vento. Ou, ainda, quem sabe se a poda não foi além do necessário?
Eu sempre acreditei que as verdadeiras amizades duram para sempre. E vou continuar acreditando, até que me provem o contrário. No mais, espero que os meus amigos saibam que, independentemente de qualquer coisa, faça chuva, faça sol, tempestade, ventania – ou a famosa “marolinha” do presidente Lula -, eu sempre estarei por aqui, para o que der e vier. Não importa tempo, não importa a distância. Nem a minha incapacidade de dizer tudo isso pessoalmente.
*Texto publicado originalmente em 08 de dezembro de 2009 em O Diário de Mogi
**Foto: Parque Centenário (Arquivo pessoal/Amanda de Almeida)