Vivemos a era do efêmero. Isso é óbvio, mas também é fato. Ninguém precisa mais se aprofundar em nada, tudo é muito rápido, superficial. Assuntos que antes exigiam uma vida inteira de estudos para se entender, hoje basta dar um enter no Google e pronto, aparecem milhares ou, por que não, milhões de páginas com explicações disso e daquilo. Ainda que sejam algumas poucas linhas em sites de enciclopédias virtuais, com links que te puxam ou empurram para outros assuntos. Uma ideia nunca é concluída.
Na era do instantâneo, o tempo corre mais rápido. Quem almoça fora de casa é obrigado a comer em restaurantes por quilo ou nos “fast foods” da vida, para ganhar mais tempo. Tempo para quê? Para trabalhar, obviamente. Produtividade é a palavra-chave.
E a comida? Perde o sabor, perde a qualidade. Congelados que ficam prontos dentro de 12 minutos em um micro-ondas (algumas palavras me causam calafrios pós-reforma ortográfica da Língua Portuguesa). Sopas de pacote, macarrão instantâneo e enlatados. Um dia já não nos lembraremos mais do gosto de um arroz com feijão, um suco de laranja espremido na hora. Em alguns países já é assim. E as crianças pensam que o suco e o leite saem direto da caixinha, sem imaginar que existem laranjais e vaquinhas mugindo por aí.
Espero que não seja o caso de Pedro Ravanelli, a mais nova celebridade instantânea da Internet. E quando eu digo nova, é literalmente. O garoto de 1 ano e nove meses se tornou um hit quando seus pais – ele torcedor do Corinthians, ela do São Paulo – colocaram na rede um vídeo do menino narrando um gol do Santos. Bastava pedir que ele narrasse o gol de qualquer outro time e pronto. “Gol do Santos”, dizia ele, com veemência.
Começava aí seus 15 minutos de fama. A família foi convidada para visitar o Centro de Treinamento Rei Pelé, em Santos, onde a imprensa registrou Pedrinho com a bola, babando no microfone e repetindo incessantemente a frase que o fez famoso. “Gol do Santos”. E a mãe contava que, ainda pequeno (mais pequeno?), uma de suas primeiras palavras foi bola, o que justificaria sua paixão precoce pelo futebol.
Será que nos lembraremos dele daqui a algumas semanas? Da mesma forma que não nos lembramos desta ou daquela pessoa, história, fato, notícia, celebridade que apareceu e desapareceu no tempo e no espaço. Com uma velocidade que já se tornou comum em todos os setores da nossa vida, que não causa mais espanto ou dúvidas.
E, de repente, me pego pensando que tudo o que aparece de inovador, de tecnológico ou de prático chega com a desculpa para nos ajudar a termos mais tempo. E o tempo é um conceito que foi inventado para quê? Ciclos de 24 horas, sete dias, 30 ou 31 dias, 52 semanas, 12 meses, 365 dias de 24 horas, horas de 60 minutos, minutos de 60 segundos… Que se passam sem que a gente perceba. Será que o relógio e o calendário foram boas invenções?
De qualquer maneira, ainda não inventaram uma boa maneira de fazer as pessoas conversarem mais e, principalmente, se entenderem melhor. É muito mais simples cada um entender o que bem quiser, as coisas sempre ficarem por isso mesmo. Porque dialogar, de verdade, exige profundidade. E, na era do efêmero, só está seguro quem consegue ser natural e verdadeiramente superficial.
*Texto publicado originalmente em 17 de março de 2009 em O Diário de Mogi
**Foto: Vila Belmiro (Arquivo pessoal/Amanda de Almeida)