Toda vez que eu entro no trem ou no metrô, é inevitável: minha atenção se volta para alguém, uma conversa, uma situação… A primeira coisa que me ocorre nestes momentos é a riqueza de personagens e histórias que surgem quando estamos dispostos a reconhecê-los. Depois, sempre imagino que é um tremendo desperdício para uma jornalista deixar que estas histórias e personagens se percam no vácuo do cotidiano, quando poderiam ser imortalizados por palavras.
Ainda que ninguém as leia…
Certa vez li uma entrevista com o cineasta espanhol Pedro Almodovár, onde ele explicava que muitos de seus personagens tiveram origem nas pessoas que ele observava e nas conversas que ele ouvia quando estava no ônibus. Em seguida, ele reclamou que, depois que se tornou famoso, não tinha mais tantas oportunidades de andar de ônibus e temia que isso prejudicasse sua criatividade.
Nenhuma das histórias que serão contadas aqui neste blog é ficcional. Obviamente que elas serão escritas sob o meu ponto de vista e, ao contrário dos escritores de ficção que são capazes de adentrar nos pensamentos e memórias de seus personagens, não serei capaz de fazer nada disso. Ainda assim, contarei com as lições aprendidas no exercício do jornalismo para preencher algumas lacunas.
A realidade, afinal de contas, pode ser tão emocionante, divertida e interessante quanto qualquer ficção. Basta prestar atenção.
*Texto escrito e publicado originalmente em 08 de agosto de 2010 para apresentar o Blog Sobre Trilhos
**Foto: (Arquivo pessoal/Amanda de Almeida)