No começo, tudo parece mesmo mais difícil. Bebês dando o primeiro passo, crianças no primeiro dia de escola, adolescentes dando o primeiro beijo. Recém-casados aprendendo a dividir espaço, pais de primeira viagem correndo de um lado para o outro, às voltas com tudo aquilo que ainda não sabem. Uma vida inteira pela frente, feito folha em branco, pronta para ser preenchida com histórias, lembranças e experiências.
Hoje eu me coloco aqui, dando meu primeiro passo frente à folha em branco, para dividir histórias, lembranças, experiências. E expectativas. São muitas, acreditem. Nos últimos dias, desde que comecei a pensar em como preencheria este espaço pela primeira vez, a imagem de Roberto Monteiro não saiu da minha cabeça por um só momento.
Sim, eu sei , muitos dos leitores de O Diário já estão carecas de saber quem foi seu Roberto, ou simplesmente Bob, para nós, seus aprendizes mais jovens. Muito já foi dito sobre ele. Um jornalista experiente, uma mente brilhante que nunca teve problemas em dividir seu conhecimento com quem estava disposto a sentar ao seu lado e simplesmente ouvir suas histórias. Eram verdadeiras lições de jornalismo e, mais ainda, de vida.
Até hoje, quando converso com meus colegas, tento dividir com eles aquilo que Bob dividiu comigo. Até porque, ele mesmo me ensinou que o conhecimento é uma daquelas operações matemáticas que fogem à razão. Que quanto maior sua divisão, maior sua multiplicação.
Uma conversa em especial, no entanto, me tirou o sono nestes últimos dias.
Foi em uma manhã – seu Roberto sempre ia à redação do jornal para escrever suas colunas – e eu estava às voltas com uma matéria. Ao me dar algumas dicas sobre a melhor forma de conduzir o texto, começou a comparar o texto jornalístico com outros estilos, como a poesia e crônica.
Me confidenciou que qualquer pessoa acreditava que poderia escrever poesias, mas que poucos eram, realmente, poetas. E eu, recém-saída de uma adolescência farta em versos, nunca mais me atrevi a fazer uma rima. Porque eu percebi que as palavras, durante muitos anos, foram sim a minha válvula de escape. Mas eram indignas de olhos outros que não os meus.
Depois, Bob falou das crônicas. Para ser cronista, dizia ele, é preciso ter experiência de vida – e quem sabe, até um pouco de sabedoria. A própria palavra crônica deriva de Cronos, o deus do tempo. É necessário saber observar o tempo que corre à nossa volta e ser capaz de absorver algo dele que, transformado em texto, seja interessante para que o leitor gaste seu próprio tempo lendo o que escrevemos.
Pois bem. O veterano jornalista me assustou. Naquele dia, desisti de fazer poesia mas, quase uma década depois, me vejo escrevendo uma crônica. O que Roberto Monteiro diria deste meu atrevimento? Em meus pensamentos, não consigo parar de me perguntar se estou no caminho certo. A verdade é que eu não sei, mas pretendo contar com a companhia dos leitores para dar os próximos passos nesta nova aventura.
O primeiro deles acabou de ser dado. O que ontem era apenas uma expectativa, hoje é uma experiência e amanhã já será uma lembrança. Que venham as próximas.
*Texto publicado originalmente em 29 de julho de 2008 em O Diário de Mogi
**Foto: Minha primeira crônica no Caderno A (Reprodução/Amanda de Almeida)