Culturalmente falando, eu tenho três grandes paixões em minha vida: filmes, músicas e livros. É difícil colocá-los em uma ordem de importância, porque isso varia muito de acordo com o momento que estou vivendo. Quando estou envolvida com alguém – na realidade, basta eu estar interessada em um cara, por exemplo – que a música me absorve de maneira quase que inexplicável.
Eu posso suportar muitos defeitos no outro, até porque eu sou cheia de manias e defeitos. Posso até mesmo suportar o fato de ele ter péssimo gosto para filmes e livros. O que eu não posso suportar, no entanto, seria um mau-gosto para música. Já aconteceu de eu me interessar por caras pelo simples fato do gosto musical deles ser compatível com o meu. Não posso dizer o mesmo de seu caráter, uma pena.
Mas, fato é que a música tem andado em segundo plano na minha vida ultimamente. E não foram os filmes que ganharam espaço. Foram os livros.
Sempre gostei de ler, mas nos últimos tempos a minha fome por livros tem me levado a devorar palavras. Hoje, por exemplo, li em uma sentada “A Última Grande Lição”, de Mitch Albom (para quem se interessar, a editora é a Sextante).
Eu já conhecia a história porque, em 1999, o livro foi transformado em filme pela HBO, com Jack Lemmon no papel do velho professor Morrie. Aliás, o título original era “Tuesdays With Morrie”, porque os encontros entre o velho professor e seu antigo aluno aconteciam sempre às terças-feiras. Lembro de ter assistido o filme e me apaixonado pela trama.
Um velho professor de sociologia contrai uma doença sem cura e, a partir daí, resolve ensinar os outros que a morte faz parte da vida e nunca é tarde para viver. E ele viveu, intesamente, até o último suspiro. Morrie virou personalidade nos EUA, entrevistado por um programa de televisão.
Mitch Albom, seu velho aluno, descobriu que o mestre estava morrendo e decidiu visitá-lo. Foi daí que começaram um projeto de discutir o sentido da vida. Morte, casamento, amor, dinheiro, trabalho, perdão… Neste tópico, a mensagem é que precisamos aprender não só a perdoar os outros, mas a perdoar nós mesmos, que talvez seja tão difícil quanto.
Eu, por exemplo, tenho grande dificuldade em perdoar a mim mesma. Aliás, eu exijo demais de mim mesma, o que me torna insuportável a minha existência. Quem diria, hein. E a novidade é que eu não ou a única. Seria capaz de citar tantas pessoas que conheço que não são diferentes…
Morrie me fez lembrar que eu passo tanto tempo sobrevivendo, que me esqueço de viver. E é fácil culpar o sistema por isso, quando eu deveria admitir que sou preguiçosa demais para mudar uma realidade à qual já estou acostumada. É por isso que de nada adianta fazer listas com resoluções de ano novo.
O que realmente importa é viver. E amar, diria Morrie.
*Texto escrito e publicado originalmente em 06 de janeiro de 2008 em A Complexa Arte de Ser Mulher
**Foto: Filme Tuesdays with Morrie (Divulgação)