Recentemente eu descobri que a pior forma de traição não é aquela existente entre um homem e uma mulher. A pior forma de traição é aquela que acontece entre uma mulher e seu cabeleireiro. Em um caso mais específico, entre mim e minha cabeleireira. Explico. Há algumas semanas, já sem suportar as raízes castanhas de meus cabelos vermelhos, resolvi marcar uma hora para retocar o tonalizante.
Infelizmente, no salão que eu freqüento geralmente não tinha horário.
Daí, tomei aquela que provavelmente foi a decisão mais errada de minha vida: ir a outro salão, aqui perto do meu trabalho. Antes, é claro, me informei com amigas que freqüentam o local, para saber quem eu deveria procurar. Eric foi o nome que me foi indicado.
Chegando lá, ele estava desocupado. Ótimo.
Primeiro, apresentei para ele meu tonalizante, aquele mesmo, sem descolorante e química pesada, já que meu cabelo nunca aguentaria uma artilharia de grande porte. Mas esqueci a emulsão. Contrariado, ele, que está acostumado a usar somente os produtos vendidos no salão, foi lá no fundo para preparar a mistura.
Eu tive uma sensação ruim, neste momento, mas fiquei lá, firme e forte.
Depois de passar o produto no meu cabelo, ele começou a falar de coisas que ficariam bacanas nele, como pintar de vermelho berrante, fazer mechas, pintar de azul. Não, obrigada.
Enquanto uma outra garota lavava o meu cabelo e passava um produto para a hidratação, uma manicure fazia as unhas de Eric. Algo estava errado.
A menina perguntou se eu queria que ela fizesse uma escova no meu cabelo. Eu disse que não, então ela disse que não secaria o meu cabelo. Por que eu não aceitei a escova? Porque meu cabelo é absurdamente liso. Seria algo sem sentido.
Quando cheguei em casa e meu cabelo já estava seco, veio o choque: a raiz estava cor de laranja. O cara misturou algum descolorante no meu tonalizante… Inacreditável.
Surtei completamente.
Meu namorado, por sua vez, curtiu. Afinal, laranja é a cor favorita dele.
No dia seguinte, ligo para minha cabeleireira. Vanessa, a manicure, atende.
“Van… a Claudinha pode me atender hoje?”
“Acho que não, ela está com todos os horários ocupados…”
“Mas é uma emergência!!!”
“Como assim, uma emergência?”.
Contei toda a história para ouvir a Van, do outro lado da linha, gritar, entre risos:
“Cagaram no seu cabelo, foi?!”.
“Foooooooooiiiiiii”.
Daí eu ouvia a Van conversando com a Claudinha, convencendo a recém-traída cabeleireira a consertar o meu cabelo.
Feito isso, no dia seguinte, a Claudinha me deu a maior prova de amor que uma cabeleireira poderia dar a uma cliente: me atendeu depois de seu expediente, cuidou pacientemente do meu cabelo, me deu conselhos sobre cuidados com eles, que estavam ressecadíssimos, e ainda me deu desconto na hora de pagar a conta, dizendo que eu já havia gasto dinheiro demais com ele…
E eu prometi que nunca, mas nunca mais mesmo trairia minha cabeleireira. E tenho dito.
*Texto escrito e publicado originalmente em 24 de maio de 2008 em A Complexa Arte de Ser Mulher
**Foto: Chucky (Divulgação)