Que nós, mulheres, temos uma certa tendência a falar, falar, falar, falar, falar, falar, falar e falar, todo mundo sabe. Mais do que nunca quando estamos em grupo. Ainda assim, as capacidades de expressão e compreensão femininas são tão apuradas, que somos capazes de utilizar somente vogais para definirmos as fases de um relacionamento. Claro que a entonação é parte fundamental nesse momento.
Por exemplo, tenho uma amiga que estava interessada em um cara, toda encantada por ele. Um dia, nos encontramos e perguntei: “E então, fulana, como é que está?”. A resposta, acompanhada de um sorriso, foi suficiente para eu saber que o namoro estava engrenando: “Ahhhhhhhh”.
Isso pode ser traduzido como “Está uma maravilha, senta aqui que eu vou te contar, ele é tudo de bom e eu estou muito feliz. Acredito realmente que desta vez vai dar certo”. Quer dizer, a simples vocalização da letra A disse tudo e mais um pouco.
Outra amiga, que estava namorando há um tempinho, já havia superado a empolgação inicial do relacionamento. Chamem a letra E. Mais uma vez, a mesma pergunta. “E então, fulana, como é que está?”. Além do fato de esta amiga, em particular, ser uma pessoa extremamente expressiva e o seu olhar dispensar qualquer comentário, ela respondeu: “Ehhhhh”.
O que significa algo como “Olha, tá indo, mas eu não estou muito certa se temos futuro. O cara é bacana e tal, mas eu não ando com muita paciência e não duvido nada que ele dance em breve. É claro que eu posso estar enganada e a situação mude, mas a verdade é que este namoro está sob observação”. Incrível, não?
Ainda assim, a minha vogal favorita nestes casos é a I. Toda vez que alguém solta essa letra, sabe-se que boa coisa não é.
“Fulana, e então, como está?”. Pode ser desde um curto “Ih”, traduzido por “Não me pergunte, eu estou muito triste. As coisas não estão dando certo entre nós, acho que vou cortar os pulsos. Tá, não vou ser tão dramática, mas hoje eu vou encher a cara. Chocolate. Me dá um chocolate!!!”.
Se a vocalização é mais longa, as coisas mudam um pouco… “Ihhhhhhhhhhhhhhhhh”: “Olha só, eu tô por aqui com esse cara. Não aguento mais ele me controlando, falando mal das minhas amigas, querendo que eu esteja sempre à disposição. Eu quero é me divertir. Esse namoro está com os dias contados. Chega, cansei. E aí, vamos para a balada?”. Ou seja. O grau de vocalização é proporcional ao pé e a bunda. Quem entra com um e quem entra com o outro.
O mesmo acontece com a letra O. “Fulana, e então?” – quando se chega a essa vogal, o melhor a fazer é evitar perguntas específicas. “Oh”. Quer dizer “Poxa, tava indo tudo bem, até que eu não sei o que aconteceu e tudo mudou. Ele parou de me ligar, disse que queria dar um tempo… A verdade é que eu estou na fossa. Chocolate. Quero chocolate!!!”.
Aquela que vocaliza a letra O mais longamente é a mesma que entrou com o pé. “Ohhhhhhhhh”. Tradução: “Ah, tá tudo bem. Ele ainda me liga de vez em quando, acho que não superou a separação. Eu tenho pena, mas a verdade é que isso já está me dando nos nervos.”
Finalmente, a letra U, que também é ótima. “E aí, amiga, como estamos?”. Aquela que deu o pé no namorado desta vez vai soltar um desgostoso “Uh”: “Quero que ele morra”. Já aquela que tomou o pé, vai soltar um “Uhhhhhhhh”: “Olha, eu percebi que aquele cara não era mesmo para mim. Poxa, eu não sou tão ruim assim. Quer saber? A fila anda. Vou começar a fazer dieta, academia… Bom, agora eu estou pronta. Graças a Deus existe chocolate. E quer saber mais? Quero que ele morra”.
*Texto escrito e publicado originalmente em 14 de novembro de 2006 em A Complexa Arte de Ser Mulher
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